Cinema italiano traz arte e tecnologia para as telonas






Este mês, a 8 ½ Festa do Cinema Italiano celebra produção contemporânea com drama sobre relações humanas e sofisticados efeitos digitais sobre obras de Caravaggio e Michelangelo, do norte ao sul do Brasil

Texto: Roberta Gonçalves
Fotos: Gillo Brunisso /Divulgação




BRASIL, 13/08/2019

O cinema italiano está em festa. Para celebrar com o público brasileiro, nada melhor do que dividir uma taça com Bacco, deus do vinho, em um cenário tropical. A imagem acima – uma versão revisitada do original Bacchus, de Caravaggio – foi uma das cenas escolhidas para representar o 8 ½ Festa do Cinema Italiano. O evento acontece entre 8 e 21 de agosto, em 16 cidades de norte a sul do Brasil, como Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Belém do Pará, entre outras.

A programação deste ano traz documentários de gênios da arte renascentista italiana, como Caravaggio e Michelangelo, com imagens em alta definição e tecnologia avançada. Também aborda as complexas relações humanas, no drama Euforia de Valeria Golino, e discute a decadência da classe política italiana, em uma sociedade cada vez mais superficial e hipócrita, no longa Silvio e os outros de Paolo Sorrentino.








Atriz italiana dirige drama vivido por dois irmãos







Longa fala sobre a relação de dois irmãos em uma situação delicada - Foto: Divulgação


Em Curitiba, a abertura do evento contou com a presença do cônsul geral da Itália no Paraná e em Santa Catarina, Raffaele Festa, além de críticos e especialistas da área. O filme escolhido para a noite de estreia foi Euforia, dirigido pela atriz napolitana Valeria Golino. A obra fala da relação de dois irmãos com perfis muito diferentes: Matteo, homem de negócios bem-sucedido, e Ettore, um tranquilo professor de Ensino Médio que é diagnosticado com câncer.

Os dois vivem os últimos meses de vida de Ettore em uma relação de angústia e aprendizado sobre o amor. O filme é dedicado a Emilio, amigo da diretora Valerio Golino, o qual teria perdido um irmão nessa situação. Em recente declaração à imprensa italiana, Valeria admite que as experiências pessoais têm mesmo uma grande influência sobre suas produções cinematográficas. Este ano, ela já vibrou como atriz da obra, Portrait de la jeune fille en feu (Porta-retrato da jovem em fogo), dirigido por Céline Sciamma, que levou o prêmio de melhor roteiro no 72.ª edição do Festival de Cannes, em maio deste ano.

Já na direção de Euforia, chegou a participar da mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes. Porém, foi superada pelo longa brasileiro A vida invisível de Eurídice Gusmão. Valeria diz que Euforia – seu segundo longa-metragem, após Miele –, apesar de ser um drama, tem também um pouco de comédia e uma atmosfera surrealista: “Fala basicamente da capacidade de dar e receber amor”, explica. Dentre as obras do 8 ½ Festa do Cinema Italiano, Euforia é a única produção com direção feminina. As mulheres também brilham em Dafne, protagonizado por Carolina Raspanti, e Lucia Cheia de Graça, estrelado por Alba Rohrwacher. Dafne narra a trajetória da personagem-título, uma jovem com síndrome de Down que busca se reconciliar com o pai depois da morte da mãe. Em Lucia Cheia de Graça, as visões de Nossa Senhora intrigam Lucia, topógrafa e mãe solteira que tenta se dividir entre o zêlo com a filha e os meandros de sua profissão.








Obras de arte invadem as telonas







Filme mostra a turbulenta vida e as obras de Caravaggio em alta definição - Foto: Divulgação


Além da presença feminina, outra marca forte do 8 ½ Festa do Cinema Italiano deste ano é o destaque dado a dois grandes expoentes da arte renascentista da Itália, com documentários detalhados sobre a trajetória e as obras de Caravaggio e Michelangelo. Patrocinado pela Prefeitura de Milão e distribuído pela Nexo Digital, o documentário Caravaggio – a alma e o sangue, é dirigido pelo mexicano Jesus Garces Lambert, revelando a trajetória e os infortúnios de um dos mais conturbados pintores italianos. Com uma vida que, assim como suas obras, também oscilou entre momentos de luz e de trevas, no século XVII, Caravaggio faleceu jovem, com menos de 40 anos de idade.

As filmagens passaram por locações em Milão, Florença, Nápoles, Roma e Malta, por onde Michelangelo Merisi, seu nome de batismo, também teria circulado. A obra contou com a consultoria de especialistas do setor como Mina Gregori e Rossela Vodret, além do prestigiado pesquisador Claudio Strinati. Professor de História da Arte da Università di Roma, Strinati direciona seus estudos para pinturas e esculturas do Renascimento, entre outras áreas. “É um filme que une o rigor científico do documentário à emoção da ficção”, afirma. Produzido pela Sky e Magnitudo Film, o longa exibe 40 obras do pintor italiano. Com avançada tecnologia, foi produzido em formato 8k, o que permite detectar detalhes importantes das obras de Caravaggio, proporcionando uma integração muito maior do espectador com as imagens da telona.








Michelangelo – Infinito narra um pouco da trajetória artística do mestre renascentista nas telonas - Foto: Divulgação


Já o documentário Michelangelo – Infinito expõe a coragem, a inquietude e a paixão de Michelangelo Buonarroti, mestre do Renascimento e da arte universal. A obra é protagonizada pelo ator palermitano Enrico Lo Verso, que interpreta Michelangelo, e dirigida por Emanuele Imbucci, apaixonado pela obra do artista renascentista. Nas telonas, pérolas como a pintura do teto da capela Sistina, no Vaticano, a escultura de Pietà, a estátua de Moisés e o afresco O juízo final podem ser conferidas com filmagens em ultradefinição e sofisticados efeitos digitais.








O drama biográfico fala sobre decadência, corrupção e hedonismo da política italiana - Foto: Divulgação


Outra obra da programação que merece destaque – não pelas belezas artísticas, mas pela grotesca realidade – é Silvio e os outros. De Paolo Sorrentino, esse drama biográfico fala sobre decadência, corrupção e hedonismo da política italiana, destacando a figura pública (e pra lá de polêmica) de Silvio Berlusconi, vivido por Toni Servillo. A exibição original italiana se dividia em dois capítulos. Mas, para a distribuição internacional, passou por uma nova montagem que une as duas partes. Na trajetória do ex-corretor de imóveis que se tornou um dos homens mais ricos da Itália, o roteiro mostra um pouco do meio que rodeia Berlusconi, sua vida pessoal, seus medos e a alucinada escalada pelo poder. É interessante notar que elementos como luxo, hipocrisia e as mazelas de uma sociedade doente, que vive de aparências, estão presentes tanto no filme Silvio e os outros, como em A grande beleza, ambos dirigidos por Sorrentino.

A programação completa da 8 ½ Festa do Cinema Italiano está disponível no site oficial do evento que acontece em Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Curitiba (PR), Niterói (RJ), Porto Alegre (RS), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP) e Recife (PE), de 8 a 14 de agosto. Já o público de Belém (PA), Florianópolis (SC), Goiânia (GO), Salvador (BA), Vitória (ES), Fortaleza (CE), Londrina (PR) e Natal (RN) poderá conferir os filmes entre 15 a 21 de agosto. Reserve seu ingresso, garanta sua pipoca e bom filme!










8 ½ FESTA DO CINEMA ITALIANO






Quando:

8 a 21 de agosto 2019


Local:

Os filmes serão exibidos em 16 cidades brasileiras. Consulte as cidades e os espaços de cinema aqui


Preço:

A partir de R$150, pelo site uhuu.com