O melhor tiramisù do mundo
Em sua segunda edição, o Tiramisù World Cup 2018 atrai participantes do mundo todo para a Itália, sendo realizado no Vêneto, na primeira semana de novembro. O evento promete atrativos gastronômicos e turísticos para satisfazer aos mais variados gostos
Texto: Roberta Gonçalves
Fotos: Gillo Brunisso/Divulgação
VÊNETO, 23/10/2018
Falta pouco para começar uma das competições mais doces do mundo. Em sua segunda edição, o
Tiramisù World Cup 2018, na Itália, será realizado entre 1o e 4 de novembro, na região do Vêneto, com entrada gratuita. O evento celebra um dos doces italianos mais populares no planeta, o tiramisù: camadas de biscoito banhadas de café, intercaladas por creme de marcarpone, ovos, açúcar e cacau.
Francesco Redi, da
Twissen Group, agência de viagens e turismo do Vêneto que organiza a competição, diz que competidores de todos os lugares do mundo participarão do evento, realizado em Conegliano, Pieve di Soligo, Valdobbiadene e Treviso, cidades vênetas conhecidas pela produção do vinho Prosecco. Além das prefeituras dos municípios participantes, a competição conta com o apoio da
Federazione Italiana Pubblici Esercizi (FIPE de Treviso) e da
Federazione Internazionale Pasticceria Gelateria Cioccolateria (FIPGC), entre outras instituições. O embate acontece em duas categorias: original (receita clássica) e criativa (receita revisitada). Os candidatos têm acima de 18 anos e não podem ser profissionais da área. Na última etapa do concurso, haverá apenas seis finalistas, três de cada categoria. Foram registrados mais de 700 inscritos concorrentes. Para comer tanto tiramisù,180 jurados foram selecionados via Internet (a organização recebeu mais de 7 mil interessados em participar do corpo de júri).
Critérios de avaliação consideram estética e equilíbrio dos ingredientes
Francesco Redi, da organização do Tiramisù World Cup 2018, e Andrea Ciccolella, vencedor da edição 2017
Nas etapas de semifinal e final, a comissão de jurados será formada somente por especialistas e personalidades de destaque, como Andrea Ciccolella (vencedor da edição de 2017), Roberto Linguanotto (considerado um dos responsáveis pela popularização do Tiramisù pelo mundo) e Mario Conte (prefeito de Treviso), entre outros profissionais da área. Redi, que comeu sozinho cerca de 15 porções de tiramisù na edição passada, afirma que avaliar tantos doces não é uma missão facil: “Todos têm um nível de excelência muito alto. É uma tarefa que exige muita responsabilidade!”, justifica. Dentre os critérios de avaliação, os jurados devem considerar itens como apresentação estética, equilíbrio dos ingredientes (não se pode sentir mais um ingrediente do que outro), paladar e harmonia na boca, sobretudo, a intensidade gustativa de cada colherada. As normas de higiene também são observadas, pois os competidores devem deixar a mesa limpa para o próximo candidato que irá usá-la.
Ciccolella apresenta seu tiramisù vencedor
No ano passado, apesar de 78% dos concorrentes serem mulheres, quem levou a melhor foi um ragazzo. O jovem Andrea Ciccolella, funcionário de uma fábrica de óculos de Treviso, quase não acreditou quando seu tiramisù foi eleito o melhor do mundo:
– Essa foi a primeira competição gastronômica de que participei. Comecei a me preparar mesmo uns três meses antes, assistindo a alguns vídeos de receita pelo YouTube. Mas estudei o prato nos mínimos detalhes. Um mês antes de começar a competição, já estava treinando muito. Na minha casa, se comia tiramisù no café da manhã, no almoço e na janta – diverte-se. Ele também se recorda de como essa conquista mudou sua vida:
– Normalmente, minha rotina era tranquila, da casa para o trabalho. Depois da vitória, tudo teve uma reviravolta. De repente, eu estava na televisão, falando para 6 milhões de espectadores ou tendo meu prato degustado pelo governador do Vêneto, coisas que jamais imaginei que aconteceriam comigo”, revela.
A receita de Ciccolella mostra cuidado com os detalhes da decoração
Ciccolella conta que seu momento de maior ansiedade aconteceu minutos antes da preparação da receita, bem como o medo de exagerar em algum ingrediente ou passar do ponto do creme. Mas, depois, foi pura concentração:
– A partir do momento que o juiz deu a largada, me concentrei na receita. Relaxei, imaginei que estava em casa e eliminei todos os fantasmas. Meu maior medo era que o creme não chegasse à consistência certa, porque a decoração que eu queria fazer no prato exigia um creme com textura perfeita. Como fazia muito calor na sala (luzes, refletores etc), isso podia interferir na montagem do mascarpone. Mas, felizmente, deu tudo certo! – comemora. A receita do tiramisù de Ciccolella é um segredo guardado a sete chaves. Mas ele dá algumas dicas para os concorrentes deste ano:
– O segredo é o equilíbrio dos ingredientes. Precisa balancear as quantidades corretamente. Se colocar muito ovo, corre o risco de ficar com gosto de gema ou clara. Se colocar muito café, o gosto forte pode cobrir o sabor dos outros itens – ensina.
Tiramisù tem origem caseira e teria nascido no Nordeste da Itália
Roberto Linguanotto, presidente da bancada de jurados, e Francesco Redi, da organização do Tiramisù World Cup 2018.
Um pouco antes de ser eleito o melhor do mundo, Ciccolella degustou também os doces brasileiros, durante rápida passagem por Curitiba: “Foi um momento muito agradável e tive uma ótima impressão. Meus amigos faziam festas com churrasco e, depois, vinham as sobremesas. Percebi que os doces brasileiros são mais açucarados, com bastante leite condensado. Na Itália, bem longe do leite condensado, a origem do tiramisù remete a preparações simples, feitas por donas de casa. Redi, da Twissen, explica que a palavra italiana “tiramisù” significa, ao pé da letra, “puxar para cima”, que seria algo como “levantar o astral”. A origem do doce tem versões variadas. Alguns acreditam que veio do Japão, ou até do Brasil e da Argentina, Redi esclarece:
– A receita teria nascido provavelmente nas regiões do Vêneto, Friuli e Lombardia, onde era um doce caseiro, preparado pelas familias. Há duas fortes tradições de preparação desse doce na Itália: uma em Tolmezzo, na província de Udine, onde era preparada no hotel-restaurante Roma, por Norma Pielli, no fim dos anos 1950. A outra tradição vem de Treviso, de onde o chef Linguanotto, presidente da nossa bancada de júri, teria divulgado para todo o mundo – explica. Redi conta que a ideia de fazer o concurso nasceu de suas viagens de trabalho pelo exterior. Em todos os países que visitava, seus colegas destacavam um “especialista de tiramisù” dentro de casa, e todos faziam “o melhor tiramisù do mundo”. Assim, logo veio a ideia de criar uma competição que pudesse reunir esses talentos.
Porém, com a grande repercussão, o evento acabou fazendo muito mais do que revelar talentos culinários, contribuindo significativamente para a valorização do território e do potencial turístico local. Para tanto, umas das principais regras é trabalhar apenas com empresas do Nordeste da Itália, de capital familiar, mas com uma visibilidade global, como MatildeVicenzi, de Verona, e Hausbrandt, de Treviso: “O objetivo é fazer conhecer também os belos lugares de nossa região, onde é realizada a competição, como em vilas de mansões do Vêneto ou castelos e colinas de Prosecco, lugares que atraem a atenção turística” – conta Redi. Um dos pacotes turísticos anunciados no site da Tiramisù World Cup 2018, “Conegliano e seus vinhedos”, custa 130 Euros/pessoa. Inclui hospedagem de 1 noite, passeios pelo centro histórico da cidade e tour na cantina Astoria, com degustação do vinho Tiramisù, feito especialmente para o evento. Dentre os vinhos aconselhados para harmonizar com o doce, destacam-s e o tinto Marzemino di Refrontolo, com sabor que remete ao chocolate. Em geral, são recomendados os vinhos passitos (com uma concentração maior de açúcar), como o Moscato da Sicília, entre outros. Empolgado, Redi destaca a versatilidade de sua região e convoca o público para a edição deste ano:
– Temos paisagens belíssimas e uma culinária deliciosa, além do vinho Prosecco, conhecido em todo o mundo. Nessa época, preparamos também risotos com radicchio rosso di Treviso. Muita gente que tinha previsão de ficar pouco tempo se apaixona e estende a permanência por mais uma ou duas semanas. Aqui tem o melhor tiramisù do mundo, no meio de cenários incríveis. É só aparecer para comprovar – convida.
Tiramisù World Cup 2018
Quando:
1o a 4 de novembro de 2018
Local:
Vêneto, Itália
Preço:
Entrada gratuita