A Itália cosmopolita de Mafalda Minnozzi






De volta ao Brasil este ano, ela se apresenta em Porto Alegre, Rio de Janeiro e no interior de São Paulo. Nesta conversa, exalta seu momento sagrado no palco, as principais influências artísticas e a rica relação entre o canto italiano e a ginga brasileira

Texto: Roberta Gonçalves
Fotos: Gillo Brunisso/Divulgação




SÃO PAULO, 04/05/2018

Mafalda Minnozzi está de volta. Ela desembarcou no final de abril no país para a primeira temporada de apresentações deste ano, que vai até o final de junho, quando retorna à Europa para os festivais de verão. No mês de outubro, a cantora – que já vendeu cerca de 5 milhões de discos ao longo de sua carreira – regressará ao Brasil, retomando o projeto “Romantica”. Sim. Ela trabalha muito. Aliás, não é a toa que seu show mais recente por aqui aconteceu justamente no Dia do Trabalho, no feriado de primeiro de maio, na cidade de Taubaté, São Paulo.

A cantora – nomeada, no final da década de 1990, embaixadora da música italiana no Brasil – é uma mulher de múltiplas estações. Este ano, já curtiu o inverno norte-americano, em performance no Birdland, lendário clube de jazz de Nova York, e se deslumbrou com as flores da primavera europeia, quando se apresentou na Alemanha. Em entrevista para o site Jardim Italiano , ela fala de seu momento sagrado no palco e das influências fundamentais de Edith Piaf e Caterina Valente na carreira. Revela também seu encanto pela mistura da música brasileira com o canto italiano, além da riqueza ritmica que encontra em artistas como João Bosco, Milton Nascimento, Guinga e Leila Pinheiro.






Itália e repertório musical







Paul Ricci, Art Hirahara e Mafalda Minnozzi em Nova York


A premier da turnê “Romantica” 2018 aconteceu esta semana em um evento ao ar livre, que remetia às suas raízes, a 29a. Festa da Colônia Italiana de Quiririm , um distrito de Taubaté, em São Paulo. No mês de maio, ela também passa por Americana, interior de São Paulo, além de Rio de Janeiro e Porto Alegre.

A próxima temporada no Brasil será realizada entre setembro e outubro deste ano, quando lança oficialmente a turnê “Romantica”. No projeto, em que celebra os sucessos da música e do cinema italianos, ela interpreta composições de Sergio Endrigo (Io che amo solo te) e Lucio Dalla (Caruso), entre outras. Já os amantes do cinema italiano vão relembrar clássicos como “Mi mancherai” (O carteiro e o poeta), “Parla più piano” (O poderoso chefão) e “Se” (Cinema Paradiso). Até o momento, as datas e os locais das apresentações do segundo semestre não foram divulgados.

Mafalda passou os primeiros meses do ano se “aquecendo” nos Estados Unidos e na Europa, onde se apresentou recentemente na Itália, no Teatro Fontana, em Milão. Na Alemanha, cantou no Vogler, em Munique, e no Filosoof, em Bremen, com o guitarrista norte-americano Paul Ricci. Porém, um dos momentos mais emocionantes desses primeiros meses de 2018 aconteceram mesmo na pátria do Tio Sam, em Nova York. Por lá, soltou a voz no lendário clube de jazz Birdland, em Manhattan, que já recebeu nomes como Ella Fitzgerald, Miles Davis e James Moody. No repertório, além de clássicos do jazz, uma novidade foi a música “Roma non fa la stupida stasera”, escrita pelo célebre compositor italiano Armando Trovajoli. Na apresentação, além da parceria musical de 20 anos com Paul Ricci, contou com a participação do pianista e compositor Art Hirahara, ex-professor do Conservatório Brooklyn-Queens. O artista é conhecido também por seu estilo eclético, tocando desde clássicos do gênero até jazz progressivo:

– Percebemos que seria uma noite mágica. Ricci é talento puro, e Hirahara toca com o coração. Sentir a emoção da plateia, que vibrava conosco, foi sensacional”, celebra a italiana de Pavia.








Canto italiano e ginga brasileira







O palco é um lugar sagrado para Mafalda Minnozzi


Mas, longe dos acordes norte-americanos, Mafalda também encontra muita vibração (e inspiração) em terras tupiniquins: “O Brasil tem uma musicalidade absurda. As pessoas não andam, elas dançam quando se movimentam, têm um jeito particular de falar, uma ginga. Isso é muito inspirador para o artista”, observa. A cantora pavese encanta-se com o perfil musical eclético do Brasil, de Norte a Sul. Destaca o afroamericano, o afrobrasileiro, a bossa nova e o samba, admitindo que essa diversidade também influenciou (e influencia) em sua carreira:

– Posso citar vários artistas do Brasil que têm uma rítmica extremamente corporal, que me inspiram muito. João Bosco, por exemplo, com a boca, é o ritmo e a bateria em pessoa. Artistas brasileiros com os quais já tive o prazer de cantar em dueto, como Milton Nascimento, Guinga, Paulo Moura, Leila Pinheiro, Martinho da Vila e tantos outros, têm uma dinâmica incrível, que justifica a expressão vocal do cantor – afirma.

Porém, usufruir de toda essa riqueza ritmica não é para qualquer um. Mafalda observa que, antes, é necessário conhecê-la bem: “Primeiro, precisa estudar. Tem que ter disciplina para aprender com essa variedade musical. Do contrário, não se pode nem pensar em abraçá-la” – adverte. E, neste caso, quem já está acostumado com a disciplina do canto italiano pode colher os frutos dessa fértil combinação:

– O canto italiano é belíssimo. As cantoras da minha geração precisavam ter uma dicção clara e uma forte expressão melódica. Todas as notas do pentagrama tinham de ser marcadas, mas faltava (e ainda falta) a expressão ritmica. Às vezes, tem um terzinato, uma valsa. Mas, mesmo assim, é reto, monocórdico, vai apenas em uma direção. Por isso, acho que essa mistura do ritmo brasileiro com a disciplina musical italiana mudou tudo para mim. Levo esse aprendizado para as apresentações na Europa e nos Estados Unidos, e o público fica encantado – revela ao Jardim Italiano.

Aliás – seja de uma lado do oceano, seja do outro –, as apresentações ainda provocam um frio na barriga da cantora, sendo quase um momento religioso, de concentração máxima:

– O palco é sagrado. Tem que entrar e dar o melhor de si, compartilhar e alimentar as pessoas com boa música. Por isso, não faço distinção de talentos. Já tive shows que foram abertos por índios da Amazônia ou músicos gaúchos que tocam acordeão. Mesmo que o público ainda não esteja pronto para isso, vai receber e processar essas novas informações para formar seu próprio gosto musical – avalia.








Influências musicais







O repertório da cantora italiana transita entre várias linguas


E, por falar em gosto, Mafalda faz questão de exaltar duas grandes influências musicais em sua formação artística: as cantoras Edith Piaf e Caterina Valente. Ela destaca a coragem de Piaf, ícone mundial de uma geração, que considera sua “guru”, uma verdadeira “filosofia de vida”:

– Ela é a essência de tudo. Não teve medo de levantar grandes críticas contra si. Foi corajosa e lutou pelo que acreditava, como dizem os franceses: je ne regrette rien – declara. Outra influência que alicerça a vida profissional de Mafalda é a cantora e atriz franco-italiana Caterina Valente, 87 anos, considerada uma das responsáveis por levar a bossa nova para a Europa, no final de década de 1950. “É a maior cantora da história. Ela nasceu no circo, esteve sempre em contato com as artes e tem uma sintonia musical incrível”, afirma.

Ao longo de sua carreira, Caterina trabalhou com um repertório musical variado, que passou pelo jazz, música pop e bossa nova, gravando em mais de dez idiomas. Da mesma forma, o repertório de Mafalda também transita entre várias línguas (e culturas), o que ela considera fundamental:

– Alguns críticos chamam meu trabalho de “jazz poliglota”, um pouco pela abertura que tenho para todas essas linguagens. Cantar só em um idioma pode ser uma grande limitação – alerta. É um pouco dessa mistura de línguas e ritmos culturais que trará este ano para o Brasil. E, nesse balaio, ela espera ansiosa pelo momento de “abraçar novas experiências e pessoas”, característica presente também em Caterina Valente, uma de suas inspirações: “Acho que temos esses traços em comum: a alegria, a miscigenação, o abraço e o gosto por agregar pessoas e sorrisos” – conclui.








MAFALDA MINNOZZI – MAIO






Quando:

terça-feira (5 de maio), 20h


Local:

Blue Note Rio – Av. Borges de Medeiros, 1424, Lagoa – Rio de Janeiro – RJ


Preço:

R$ 90 (lounge) R$ 120 (premium lounge)











Quando:

terça-feira (23 de maio), 21h30


Local:

Sgt. Peppers – Rua Quintino Bocaiúva, 256, Moinhos de Vento – Porto Alegre – RS


Preço:

R$ 100 ou R$ 60 (Se levar 1kg de alimento não perecível)











Quando:

terça-feira (25 de maio), 21h


Local:

Teatro Paulo Autran – Rua Belém 233, Jd. Nossa Senhora de Fátima, Americana – São Paulo – SP


Preço:

Ingressos antecipados: R$ 45 / Ingressos no dia do show: R$ 90









MAFALDA MINNOZZI – JUNHO






Quando:

segunda-feira (18 de junho), 21h


Local:

Clube do Choro – Brasília – DF


Preço:

R$ 20 - R$ 40











Quando:

terça-feira (19 de junho), 21h30


Local:

Bourbon Street, Rua dos Chanés, 127 – Moema, São Paulo – SP


Preço:

R$ 52 - R$ 65